Uma noite com John Williams e suas trilhas memoráveis

Henrique Castro
5 min readNov 30, 2017

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Muita gente talvez não reconheça de primeira o nome de John Williams, mas é, para pessoas de qualquer idade, praticamente impossível não reconhecer alguns de seus trabalhos. Músico, regente e compositor ,John Williams deixou sua marca na história da música e se tornou nome de respeito em toda a indústria do entretenimento. E recentemente foi homenageado pela Orquestra Sinfônica Municipal no Theatro Municipal de São Paulo.

Palco montado para uma orquestra de 77 músicos e com um pequeno atraso, não comum no Municipal, teve início o concerto. De cara duas coisas a serem notadas: 1) o regente, Roberto Minczuk, que não usava nenhuma partitura e regia com grande intensidade e 2) um letreiro (usado nas legendas para as Óperas) que anunciava as peças que estavam sendo executadas.

O Concerto

No final do texto há uma playlist do Spotify com todas composições citadas, aproveite para ouví-las enquanto lê o texto!

A primeira música executada foi um dos temas de E.T., uma peça calma e muito bonita, ótima para começar a aquecer nossos ouvidos para a música de orquestra, e também, como não poderia ser diferente em uma noite dessas, nossos corações.

Na sequência um início de trompas anunciava o tema de Jurassic Park. Uma fantástica música que remetia diretamente às emoções de quando pela primeira vez vimos dinossauros “reais” no cinema.

Na sequência uma verdadeira imersão… A linda introdução de Hedwig’s Theme tocada na celesta nos coloca dentro de Hogwarts, como se o teto no Municipal fosse substituído por nuvens e trovões. O tema é seguido por Nimbus 2000 e uma música creditada como “Fantástico mundo de Harry Potter” completaram a viagem ao mundo bruxo.

Ao fim dos aplausos o regente, pelo microfone, faz uma rápida apresentação sobre a importância das trilhas sonoras de filmes e jogos e como, muitas vezes, estas são o primeiro contato que as pessoas tem com a música de orquestra, além de uma breve apresentação de John Williams e suas influências. E apresenta o tema seguinte com uma anedota… Diz a lenda que Steven Spielberg ao ouvir as prévias que Williams tinha realizado diz que não poderia ser daquele jeito, assim… com apenas duas notas. E Williams responde com um “Steven confie em mim“.

Para bom entendedor só uma dessas notas era suficiente… Um longo tom grave do piano, algumas cordas ressoam e, de forma realmente apavorante, fagotes iniciam a a sequência cromática que tanto nos angustia ao longo de todo filme Tubarão.

O tema seguinte, como de praxe, inicia aos poucos com algumas notas que se repetem até os metais nos convidarem à ação. Tive vontade de jogar meu chicote no lustre central do Municipal e fugir da iminente imensa rocha que começaria a me perseguir. O tema de Indiana Jones mostra como Williams é genial em transmitir a emoção desejada, pois estava ali pronto para a aventura. Com a adrenalina no alto um intervalo nos convida para recuperar o fôlego e esticar as pernas.

Descanso merecido para músicos e público, uma vez que a volta seria em um tom menos festivo que todo resto do concerto. Agora com um belo e choroso violino solo (e finalmente alguma partitura para o regente) chegamos ao tema de A Lista de Schindler, seguidos pelas canções Cidade Judaica e Lembranças que contou com um belo e solene dueto de harpa e violino.

Nada de feliz ou alegre poderia ser executado automaticamente na sequência, então, o regente apresenta mais uma história da colaboração de Spielberg e Williams. Durante a produção o diretor envia o roteiro e as primeiras cenas para Willians que retorna dizendo que ele não poderia nunca ser o autor dessa trilha que merecia um compositor melhor. Spielberg concorda “é verdade, mas todos eles já estão mortos. John, eu confio em você” devolvendo a confiança conquistada em Tubarão. Uma bela história que servia, principalmente, para nos habilitar a novamente poder se empolgar.

Star Wars, uma Ópera Espacial

O regente abre a contagem, um prato soa e todo o naipe de metais abrem em um nota alta e longa, e assim, escandalosamente épica conseguimos ver letrinhas amarelas na tela. Daí em diante conseguimos ver mentalmente todo o filme: O fim do letreiro de introdução acaba, a música acalma, os violinos tomam a frente e vemos a câmera descendo pelo espaço, até encontrar um planeta com uma pequena nave passando por cima dele, e então o terror de uma gigantesca nave que parece nunca acabar. Ouvir o tema de Star Wars sendo executado por uma orquestra faz entender porque tantas são as vezes em que Star Wars é descrito como uma “Space Opera”. Realmente o filme acontece colado à trilha sonora. O que torna a trilha, o filme e a presente experiência ainda mais incríveis!

Após a introdução, o tema da Princesa Leia, uma belíssima canção que mostra leveza e poder, e que com a ainda recente perda de Carrie Fisher, fica ainda mais triste. Na sequência o tema da Sala do Trono e o Finale, novamente contam a história do filme. Ouvimos ali dentro o tema da Força, deliciosamente cantado por um oboé, e junto do Luke assistimos o pôr dos sóis de Tatooine, ouvimos o momento em Han e Luke são honrados com as medalhas pós batalha, e sabemos exatamente quando o filme acaba e o nome de George Lucas surge na tela.

Todos de pé vibram, aplaudem e agradecem ao conjunto de homens e mulheres que proporcionaram aquele espetáculo! O Regente sai de cena, a plateia puxa as palmas ritmadas do pedido de bis e o regente anuncia que a partir daquele momento fotos e vídeos são permitidos.

É hora do #bisnomunicipal e hora de mais uma vez John Williams surpreender e nos colocar com um olhar grave ao horizonte, mãos na cintura e vontade de sair dali voando junto de Kal-El! O tema de Superman é brilhantemente executado e tudo o que nos resta é respirar fundo, voltar para casa e… Assistir Uma nova esperança mais uma vez!

https://open.spotify.com/user/castrohm/playlist/4JAJAhpdUy2wIqiXAUe1aO

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Henrique Castro

Escreve onde pode e palpita por aí, reúne textos por aqui. E-mail: castrohm@gmail.com — Instagram: henrique.mcastro.